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Uma pandemia que começou há dez anos.

15.jan.2021

Ela sempre esteve ali, percebida apenas por alguns trendsetters, com mudanças previstas em vários setores

*Ricardo Voigt – Diretor da V3COM

Ao refletir sobre todo esse processo de aceleração de futuro e confirmações de tendências que estão em pauta no mercado hoje, chego à conclusão de que uma “pandemia” começou há aproximadamente dez anos – ou até antes. Ela sempre esteve ali, percebida apenas por alguns trendsetters que já nos davam pistas sobre mudanças previstas em vários setores. Digo isso, principalmente, com olhar voltado ao setor em que atuo, que é o de comunicação, e a analogia que proponho é apenas para gerar uma rápida análise de visão mercadológica.

A pandemia a que me refiro “contaminava” o mercado devagar, e os sinais que comprovavam sua presença já exigiam mudanças de paradigmas em muitos profissionais, gestores e empresários. Muitos ainda relutavam em acreditar e diziam, com base em seus indicadores de negócios, que poderia ser apenas uma “gripezinha” passageira. Mas não era.

Nesses últimos 10 anos, os negócios na área de comunicação sentiram os sintomas e foram obrigados a mudar rapidamente. Novas realidades de custos operacionais, novos indicadores de dados estratégicos e a renovação da mentalidade das marcas eram sinais presentes, que já exigiam um foco em prevenção e formas mais eficazes de tratamento até chegar à tão desejada vacina.

Veículos, agências, profissionais e universidades – atores que fazem parte do mercado de comunicação – sentiram a primeira onda de mudanças promovida pela transformação digital. Como afirmam em artigo os pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) João Francisco Raposo e Carolina Frazon Terra, em um mundo cada vez mais midiatizado, “datificado” e multiplataforma, entende-se que profissional de comunicação deve “desenvolver novas competências de forma a conseguir entender e acompanhar a atual complexidade de um mundo que muda o tempo todo”.

Nesse sentido, o comunicador precisa, entre outras habilidades que agora deve possuir, concentrar-se em desenvolver conteúdos de interesse que sejam altamente propagáveis em grupos e comunidades online.
A segunda onda, contudo, já estava a caminho, e agora chegou. Foi um período de mudanças, com muita resistência, mas também alguns avanços, como a força motora gerada a partir da consolidação dos conceitos de propósito e sustentabilidade das marcas e negócios, elementos indispensáveis na tão desejada vacina e que dão sentido ao processo de mudança acelerada que vivemos hoje. Isso tudo somado a um movimento consistente por mais criatividade, inovação e empreendedorismo.

Os valores e o legado que o setor de comunicação construiu em décadas continuam presentes: ética, transparência, integridade, credibilidade, confiança, autenticidade, diálogo. No atual momento, inclusive, ganham cada vez mais força. Aliados a eles surgiram novos, como engajamento e interação, o que ampliou imensamente a escala de níveis de informação e percepção das marcas.

Paul Holmes, fundador da PRovoke Media, é taxativo sobre as mudanças ocorridas no setor de comunicação nos últimos anos: “as mídias sociais alteraram o preço que as empresas pagam por más relações públicas. Se não agem com integridade, não são autênticas, insistem em falar mais do que ouvir, então, elas serão descobertas muito mais rapidamente e punidas com muito mais severidade do que no passado”.

Muitos negócios no setor de comunicação que têm como foco apenas o seu core business começaram a encontrar uma dificuldade maior para gerar valor em um mundo que pedia ideias mais ousadas, além de uma habilidade na criação de conteúdos efetivos em múltiplas plataformas. O olhar para o negócio já não se adaptava às novas exigências dos clientes e do mercado, os profissionais criativos das palavras precisaram começar a entender de dados, métricas, ferramentas tecnológicas e análises comportamentais. Ocorre, porém, que mudar somente com a dor nem sempre é fácil.

Esse artigo foi originalmente publicado no portal Meio & Mensagem.

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